Santiago de Compostela é capital e uma das mais importantes cidades da Galiza (Espanha). A cidade é um dos principais centros de peregrinação cristãos do mundo, graças Túmulo de São Tiago, uma das relíquias mais sagradas do Cristianismo. Milhões de peregrinos percorrem todos os anos o Caminho de Santiago até esta cidade, e até à sua majestosa catedral, verdadeiro ex-libris da cidade. Considerada um dos principais monumentos religiosos da Europa, é o principal destino do Caminho de Santiago.
Santiago foi fundada pelos suevos em inícios do século V, após o colapso do Império Romano. Em 584, a cidade, juntamente com o resto do que é atualmente a Galiza e o norte de Portugal, foi incorporada por Leovigildo no Reino Visigótico. Invadida entre 711 e 739 pelos árabes, foi finalmente conquistada pelo Rei Visigodo das Astúrias em 754, cerca de 60 anos após a identificação do corpo como sendo o de São Tiago o Maior, e do reconhecimento como tal pelo Papa e por Carlos Magno, durante o reinado de Afonso II das Astúrias. O corpo foi encontrado na pequena vila vizinha de Iria Flavia, mas foi transportado para Santiago devido a razões políticas e religiosas. Desde esse momento, a povoação já não era uma cidade como as outras, mas uma Cidade Santa, e um dos principais pontos de peregrinação cristãos. No entanto, algumas pessoas acreditam que o corpo encontrado não era o do apóstolo Tiago e uma das mais famosas teorias é de que este corpo é o de Prisciliano. Mas muitos pensam que se trata do corpo de outra pessoa.
O apóstolo Tiago, o Jacobo, ou o maior, Santiago, Saint Jacques em francês, Saint James em inglês, em hebraico Yacob (Jacó), após a crucificação de Jesus, pregou o evangelho na Galícia, região que aprendeu logo a amar.
De regresso a Jerusalém, foi decapitado pelo Rei Herodes, e seus restos mortais, segundo a lenda, foi levado de volta à Espanha em um barco de pedra, transportado por anjos numa viagem que durou 7 dias e foi enterrado na Galícia. Em princípios do milênio atual, continua a lenda, um camponês chamado Pelayo, guiado por muitas estrelas, encontrou em um grande campo, a sepultura do apóstolo. A notícia correu mundo, lançando uma legião de cristãos a peregrinar até Santiago de Compostela, cidade que se formou na região. A palavra Compostela, provém de campo de estrelas, ainda segundo a lenda. Desde então, multidões de peregrinos anônimos vêm percorrendo este caminho mágico, o único no mundo que não se formou por motivos comerciais. Vários daqueles que deixaram o nome na história, como Carlos Magno, El Cid, São Francisco de Assis, Fernão de Aragão e Isabel de Castela, também percorreram o caminho. Ainda hoje se faz a história do caminho, com a passagem de peregrinos não menos famosos da nossa história contemporânea, como artistas, escritores, historiadores, etc.
Percorrido por peregrinos desde a Idade Média, o Caminho de Santiago está longe de ser apenas um roteiro turístico. Localizado entre a Espanha e a França, e com ramificações em Portugal, o percurso congrega, como poucas viagens no mundo, enormes doses de religiosidade, história e lindas paisagens. Mas vale ressaltar: andar por suas estradas, subir suas montanhas e cruzar os seus rios sempre foi, acima de tudo, um ato fervoroso de fé e um desafio de superação física.
A catedral de Santiago de Compostela, um dos principais polos de peregrinação católica do mundo, é um verdadeiro convite a equivocadas interpretações históricas. O que se vê de fora reflete muito pouco da relevância arquitetônica da igreja. A julgar pela abundância de ornamentos retorcidos da fachada, por exemplo, está-se diante de uma obra barroca. A conclusão é em parte correta: as duas torres que dominam o conjunto datam do século 17, quando essa escola arquitetônica estava no auge na Europa. Mas essa é apenas uma parte da história, a mais recente e não necessariamente a mais importante, já que imponentes construções barrocas como essa não são raras no continente.
Ao longo das rotas de peregrinação foram construídos castelos, igrejas, ermidas, pontes, muralhas, mosteiros e até cidades inteiras. Tudo rodeado por bosques vicejantes, paisagens rurais bucólicas e montanhas imponentes.
A rota
“O Caminho de Santiago começa na casa do peregrino”, prega o ditado usado pelos adeptos do percurso. E, de fato, são muitas as rotas que levam até a cidade de Santiago de Compostela. As mais populares delas, porém, são as que começam na fronteira entre a Espanha e a França, à sombra da cordilheira dos Pirineus.
Uma delas é o “Caminho Francês”, que tem início no interior da França e entra na Espanha via a cidade de Roncesvalles. O outro, considerado um dos mais belos pelos viajantes, é o “Caminho Aragonês”, que ingressa em território espanhol pelo posto de passagem de Somport (localizado no Valle del Aragón, cheio de montanhas, lagoas e bosques).
A catedral tem uma história pregressa. A fase barroca se sobrepôs a uma edificação românica, que, iniciada no século 11, demorou cerca de 130 anos para ficar pronta. O período marcou o ápice dessa escola arquitetônica, que contrasta com o barroco pela sobriedade de sua concepção, marcada por arcos, pelas paredes maciças e pelas poucas janelas. A simplicidade da arte românica está presente no pórtico da Glória, logo na entrada da catedral. Datado do século 12, esse conjunto de esculturas tinha um sentido didático para a população da época, em grande parte analfabeta. Dispostas em três colunas, as figuras contam histórias bíblicas, do Antigo ao Novo Testamento, do Gênesis ao Apocalipse. Pela primeira vez, os fiéis podiam visualizar, esculpidos em pedra, os principais personagens da história do cristianismo. A atenção do visitante na Catedral de Santiago, porém, não recai apenas sobre a imagem de Cristo ou sobre a do próprio Santiago. Destaca-se, entre as figuras, a do apóstolo Daniel, não por sua importância na hierarquia da igreja, mas por ostentar aquele que é considerado o primeiro sorriso retratado na arte românica –até então os artistas não captavam expressões faciais em suas esculturas. A obra é de autoria do mestre Mateo, que assina o trabalho ao incluir no conjunto uma escultura dele próprio.
A visita à catedral vale a viagem. Para quem não tiver muito tempo e quiser ter uma visão geral do interior, o melhor ponto de observação é a partir da parte posterior do altar-mor, onde se encontra uma imagem de Santiago. A tradição é abraçar o santo por trás, momento em que se vê a igreja do alto. Mesmo abstraindo-se o sentido religioso do ritual, a perspectiva do conjunto compensa a eventual espera na fila. A catedral de Santiago é importante pelo que mostra e pelo que esconde. Deixando-se a igreja pela frente, volta-se à praça do Obradoiro, de onde se admira a catedral de perto. A insuficiência do espaço e as dimensões da catedral, porém, podem dificultar a apreensão do conjunto todo num só olhar –uma sensação parecida com a de alguém que se senta na primeira fileira de um cinema com uma tela muito grande. Por isso, o conjunto arquitetônico também deve ser observado de longe.
A melhor vista para a Catedral de Santiago é a do parque Carvalheira de Santa Suzana, contíguo ao centro histórico. Afastando-se um pouco mais, na mesma direção, chega-se ao hotel Palacio del Carmen, que funciona num antigo convento. A visão da catedral a partir daí vale a caminhada de dez minutos.