Capital comercial e cultural das Astúrias, Oviedo conserva um núcleo urbano de traçado medieval à volta da Praça Alfonso II. A imponente catedral, edificada em estilo gótico flamejante, constitui uma visita indeclinável. No seu interior conserva-se um admirável retábulo do século XVI, além dos túmulos de seis monarcas asturianos. Mas o tesouro mais precioso é a Câmara Santa, uma capela do séc. IX, um relicário da melhor arte sacra. Bem em frente à Catedral de Oviedo, em volta da qual se desenvolve o centro histórico, sobressai, uma escultura denominada de “La Regenta”. A verdade é que se trata de uma homenagem à obra homônima escrita por Clarín, uma das mais importantes novelas do século XIX, que narra os amores adúlteros de uma mulher numa cidade provinciana dominada pelo clero e avassalada pela hipocrisia e corrupção. Estranha homenagem, se pensarmos que a cidade era Oviedo, só que em vez de abalar a imagem do seu povo conservador e católico, “La Regenta” transformou-se num símbolo de força e reforçou a aura cultural da capital das Astúrias. Sempre hábeis, os espanhóis.
Diz a lenda que foi durante o reinado de Afonso II das Astúrias, o Castoque, que foi descoberto o túmulo do apóstolo São Tiago, por um ermita de Compostela no ano 814, convertendo assim a cidade num centro de peregrinação para toda a cristandade. Segundo a lenda, Afonso teria sido o primeiro peregrino da história.
A Catedral, com sua impressionante torre elevando-se até ao céu, é o centro da zona antiga de Oviedo. Diante dela, a ampla praça construída nos primeiros anos do século XX (antes um aglomerado de casas ocupava este espaço) permite a suficiente perspectiva para contemplar com detalhes a bela porta gótica e o seu amplo pórtico com três arcos que convida a penetrar em seu interior. A catedral começou a ser edificada em finais do século XIII, em estilo gótico e assenta sobre uma basílica construída em honra de S. Salvador. A construção terminou apenas no século XVI, pelo que atravessa vários estilos: o cruzeiro é renascentista e o Panteão Real é barroco.
Encantos
A Espanha é cheia de lugares especiais. O norte, então, possui características únicas. Lá encontramos Galícia, Principado das Astúrias, Cantabria, Euskadi (ou País Basco), Navarra, Aragón e Catalunha. Oviedo, capital do Principado das Asturias é um desses lugares inesquecíveis. As pessoas são amáveis e as esculturas que se espalham pela cidade são belíssimas.
Na zona histórica concentra-se a essência da cidade de Oviedo, dos seus monumentos, da sua historia e da sua idiossincrasia, Passear pelas ruas, estreitas e renovadas, transmite-nos o sabor e o cheiro da cidade velha; leva-nos como se tratasse de uma viagem no tempo às suas origens no século VIII, ao seu espaço amuralhado, à cidade medieval, sede do primeiro reis das Astúrias e último bastião da Cristandade com a Catedral como grande centro sobre o qual dominava a vida da cidade.
O parque São Francisco
Oviedo conta com mais de 1.000.000 metros quadrados de zonas verdes. Grande parte está ocupada pelos parques de Oviedo: Campo de São Francisco, situado no centro da Cidade, é o seu verdadeiro pulmão verde. É o parque mais tradicional da cidade; conta com uma grande e espessa vegetação. Está bem equipado, com um quiosque de música e vários edifícios, fontes, bancos e circuitos, entre os quais o circuito histórico de El Bombé.
O parque San Francisco está localizado no coração da cidade de Oviedo, e é sem dúvida o mais representativo e rico na capital asturiana. Tem uma rica botânica com 127 espécies diferentes de árvores e arbustos, que são adicionados mais 23 variedades de culturas. Os 0,5 % vem da África, 14 % da América, 3 % da Austrália e Oceania, 9 % do Mediterrâneo, os Balcãs e a Ásia Menor, 16 % da Europa e 3 % de Espanha. Além disso, onze das espécies são consideradas paisagem típica das Astúrias.
Sendo o mais representativo e rico parque da cidade ele pertenceu a um convento franciscano. Aliás, a cidade dependia do convento, até a secularização de 1816, que o transformou em um jardim botânico. Espécies dominantes deste parque são o carvalho, o castanheiro e negecillo. No parque encontra-se a famosa árvore O Carbayón, que é emblemática para o espanhol, registrada em 1879, e é dita da era de seiscentos anos, tendo quase trinta metros de altura e dez da circunferência do tronco. Nas lagoas é possível encontrar exemplares de patos, cisnes e pavões.
Cercada por prédios nobres:
A praça da Catedral está delimitada por um conjunto de prédios nobres, entre os quais ressalta a capela da Balesquida, templo dedicado à adoração da Virgem da Esperança, que faz esquina com a praça Porlier, que tem origem no século XII, mas que foi reconstruído várias vezes. À sua esquerda, a Casa dos Lianes, edifício barroco do século XVIII, que limita com outro de corte clássico, que é sede da ilustre ordem dos Notários. A seu lado ergue-se o Palácio da Rua ou do Marquês de Santa cruz, do século XV, que é a edificação civil mais antiga da cidade, por que sobreviveu ao incêndio que em 1522 assolou Oviedo. Não obstante, a disposição original ficou alterada com um corpo com varandas colocado no século XVIII.
Praça da Escandalera
Aqui se posiciona uma interessante escultura de Fernando Botero. Oviedo é uma cidade muito charmosa que merece uma visita. A amiga catanduvense Luciana P. Pereira da Conceição é que o diga, pois já reside por lá a vários anos. Fernando Botero é um pintor e escultor colombiano, nascido em 1932, na cidade de Medellin. Suas obras destacam-se sobretudo por figuras rotundas, o que pode sugerir a estaticidade da humanidade. Há de se perceber uma crítica social, especialmente no que diz respeito à ganância do ser humano. Nos anos 50 estudou em Madri, onde acrescentou os mestres espanhóis a seu interesse por arte pré-colombiana, colonial espanhola e pelos temas políticos do muralista mexicano Diego Rivera. A “Maternidade” é uma peça de grande tamanho (2,46 m de altura) e peso com mais de 800 kg, realizada em bronze bem brunido, sem arestas, nem retas onde sobressaem as curvas como elemento geométrico.
Aqui Luciana nos mostrou uma das laterais do Campo de São Francisco que é bastante visitado em dia comercial. Paseo del Campo de San Francisco criado em 1874, quando abriram a rua Uria , nomeado para as árvores que ladeavam-no. Os choupos original foram cortadas em 1925 e depois de pavimentado foi rebatizado Paseo del Príncipe. Finalmente, o plenário de 29 de junho de 1979 restaurado ao seu passeio nome original.
A acolhedora terra de Fernando Alonso e Leticia Ortiz possui por volta de 300.000 habitantes e é especialmente famosa por suas sidrerias concentradas na calle Gascona, e por sua rota de vinhos, localizadas em duas ruas perto da estação central com várias alternativas para restaurantes e bares. Se o interesse está nos pubs, também não faltarão opções.
Em Oviedo encontramos cerca de 105 obras (esculturas) que se multiplicam a cada esquina, tornando Oviedo a cidade do mundo com maior número de esculturas por habitante. “A Maternidade”, de Fernando Botero, (igual à presente no Jardim Amália Rodrigues, em Lisboa); o “Culis Monumentabilis”, de Eduardo Úrculo, com um nome tão claro que dispensa qualquer descrição; o “Homem sobre golfinho”, de Salvador Dali, “Liberdade”, de Luís Sanguino, “Vendedoras del Fontán”, de Favilla, ou “La Lechera”, de Manuel Garcia, são algumas delas, com tamanhos e temáticas variadas, desde a homenagem a figuras conhecidas, referências a valores universais, até à representação de costumes antigos da cidade e da região.
NOSSOS AMIGOS
Essa cidade gratificou-nos em nossas andanças urbanas ao lado dos amigos Luciana e Luis que nos introduziram no contexto mais vasto que modela a alma e a identidade asturianas e com o qual comunicam por uma teia de fios subtis. Vale aqui a palavra de Ortega y Gasset, que via as Astúrias como o espaço natural de “una raza de hombres capaces de intervenir en la vida contemporánea sin perder la solidariedad del espíritu com el campo nativo”.
Palácio de Congressos das Astúrias
Foi Santiago Calatrava quem projetou o Palácio de Congressos das Astúrias ele é um arquiteto conhecido pelas suas obras vanguardistas, e por outro lado, foi um desafio fazer este trabalho em uma cidade que tem um estilo e formas tão clássicas e conservadoras. Os responsáveis pela obra decidiram-se pelo risco. Como era esperado, choveram as críticas, mas o tempo acabou por moderar os contestatórios, sendo que, atualmente, quase toda a população de Oviedo fala com orgulho do projeto.
Madreñas artesanais
Luciana nos contou que uma especial atenção merece o arco dos Zapatos, rua onde existem uns prédios vistosos com uns arcos que formam uns soportales onde desde há dezenas de anos eles vendem as madreñas artesanais (tamancos (sapatos) de madeira). Este recinto, junto á praça de Daoíz e Velarde, contígua à Fontán, é utilizado para o mercado semanal que desde épocas remotas acontece às quintas-feiras, com uma variedade de produtos hortícolas da região, flores e roupas. Os anos e as exigências das normas sanitárias obrigaram à substituição dos locais de alimentação por outro tipo de produtos, ainda que se mantenha a sua tipicidade e o seu sabor. Aos domingos de manhã, este mesmo espaço acolhe um pequeno rastro com artigos de leilão, livros, moedas e quinquilharias de todo os tipos. Na praça de Daoíz e Velarde somos surpreendidos pelo Palácio do Marques de São feliz, de 1735 (uma propriedade privada, não visitável) e junto a ele, e quase junto ao solo, A Fonte do cano, fonte que data de 1657 e que foi reconstruída nos últimos anos do século passado.
Bebe-se sidra em praticamente toda as Astúrias. E nos últimos anos, cada vez mais, substituindo a cerveja e o vinho, bebidas que ameaçavam este emblemático e antiquíssimo néctar asturiano. Em Oviedo ou em Gijón, como em Nava e noutras cidades das Astúrias, multiplicam-se as sidrerias, bares onde se pode degustar a típica bebida e picar os petiscos tradicionais da região.
Oviedo: No seu escudo está escrito o seguinte lema: “A muito nobre, muito leal, heroica, invicta, benemérita e boa cidade de Oviedo”. É apelidada de Capital do Paraíso, já que as Astúrias são o Paraíso Natural.